Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

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Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

terça-feira, 31 de março de 2015

STONEHENGE

Stonehenge é um ótimo passeio "bate-volta" a partir de Londres. Ver apenas o monumento toma apenas uma manhã OU uma tarde. Se você decidir visitar mais algumas cidadezinhas no passeio, pode separar um dia todo.

Chegar a Stonehenge sem contratar uma empresa de turismo é fácil e muito mais barato! Na estação de Waterloo, em Londres, pegue um trem até a cidade de Salisbury, que é a cidade onde fica o monumento de Stonehenge. A viagem dura em torno de 1h30.

Chegando na estação (minúscula) de Salisbury, vá até a saída e lá você verá o ônibus que faz o trajeto da cidade até Stonehenge (http://www.thestonehengetour.info/). O ônibus é vermelho e se parece com os famosos Double Deckers de Londres. Os ônibus saem a cada hora e levam você até a entrada do monumento.

Não se assuste, ao chegar perto do monumento ainda no ônibus, e vê-lo ali, ao lado da rodovia, displicente. É assim mesmo! Eu confesso que esperava que Stonehenge fosse maior, mais imponente... Ah, e não é possível chegar muito perto das pedras, nem entrar no círculo e, obviamente, não é possível tocá-las (coisa de brasileiro, né?).

Visitar Stonehenge não leva mais que uma hora. Por isso, aproveite o serviço de ônibus e visite não só a charmosa Salisbury, que tem uma belíssima catedral, mas também as outras cidades antigas ao redor, como Old Sarum, por exemplo.











sábado, 28 de março de 2015

RIVERA

Morar no sul do Brasil é um eterno convite a road trips pelo Uruguai e pela Argentina. Porém, se você não gosta de dirigir por muitas horas e se sente desconfortável sentada(o) por muito tempo, se aventurar por viagens mais longas fica mais complicado. Rivera, no entanto, é um dos destinos uruguaios mais próximos de nós, e vale cada quilômetro.

Já havíamos visitado o Uruguai antes, fomos a Montevidéu em 2010, e Rivera é só mais um passo na direção de amar e admirar ainda mais esse país. Creio que todo gaúcho ame o Uruguai. Compartilhamos de uma cultura similar, de uma vegetação similar, de um clima tão similar... Nossa bebida mais amada é a mesma, mesmo que com sabores um pouco diferentes. Nosso prato mais amado é o mesmo, mesmo que preparado um pouco diferente. Somos igualmente resilientes quanto ao duro inverno, igualmente dependentes do trato com os cavalos e o gado...

A viagem em si é cinematográfica. Longas retas traçam os Pampas gaúchos até o Uruguai. A estrada perde-se no horizonte, em campos e montanhas com tons de verde. Se você for na primavera, verá os Ipês floridos e as plantações de canola emoldurando a estrada em amarelo.




Rivera é um destino de compras para o turista brasileiro. Claro que as compras são uma porção importante da viagem. Comprar vinhos na Neutral e queijos no Le Carroussel é fundamental! Mas eu penso que Rivera seja erroneamente subjugada. Os brasileiros tendem a visitar a cidade em sistema de "bate-volta", chegando pela manhã, passando o dia nos free shops, e já retornando a seus destinos no fim da tarde. Acabam ficando restritos a Avenida Sarandi e arredores. Alguns nem param para comer a parrillada local! Um erro gravíssimo!

Rivera é muito mais que compras!

Caminhe apenas quatro ou cinco quadras na direção do Uruguai e você verá uma igrejinha simpática, em frente a uma praça limpa e bem cuidada com um chafariz, monumentos, estátuas e prédios antigos. A cidade é limpa, sem cães de rua, com uma arquitetura simples - porém, única.

Mas claro que eu os convido, principalmente, a serem arrebatados pelos sabores uruguaios. Além de carnes com sabor único e maciez inimaginável, além de bons vinhos, você ficará chocado com os preços justos. É fácil achar restaurantes com bom atendimento, ambiente charmoso e pratos deliciosos com preços mais que acessíveis. Os meus preferidos são o Gardel e o Galpón.

Além das carnes, o país é referência internacional em queijos, e muitos dos pratos levam pimentões. Aliás, carne, queijo e pimentão formam o triângulo da felicidade uruguaia. Peça um queso relleno (queijo derretido com ovos cozidos e pimentões) e uma Pamplona de porco ou de frango (o maior símbolo do "triângulo feliz" que mencionei aqui em cima), e seja feliz!





terça-feira, 24 de março de 2015

FLORIANÓPOLIS

Uma infinidade de seres numa única ilha. Impedida de crescer fisicamente, ela cresce pra cima... pra cima da montanha, pra cima do mar... e pra dentro, de cada um.

A praia é o refúgio, é onde o mal se redime, é onde a capital se desmancha em espuma. Mesmo que se leve horas para chegar até ela, a praia é o sonho maior de quem escolheu a Ilha da Magia para morar.

O amor é tamanho que usar roupas de praia para o trabalho ou estudo é aceitável. É como se o morador não quisesse que o verão acabasse... O caminho da felicidade é o caminho da praia, se o trânsito permitir.

O Catarinense também ama a ilha. Ele sai da serra, do extremo oeste, de onde quer que seja, para sonhar na ilha. Geograficamente incoerente, ter que ir a capital acaba sendo uma fuga desejada, uma inconveniência feliz.

A herança Açoriana não está apenas nas construções mais antigas, ela está em tempo presente. A comida, as ruelas, as colinas lembram Portugal. O sotaque, no entanto, é coisa única nesse mundo. E é contagioso.

A ponte Hercílio Luz é um marco, é o ponto mais fotografado, a certeza feita de concreto de que você está em Floripa. Porém, é uma dor de cabeça também. A inutilidade e o preço da ponte são equivalentes ao seu valor turístico e simbólico. Equivalentes ao amor que o Manezinho sente por ela.

Exercitar-se na Beira Mar é um dever, e uma arte. Comer no Mercado Público pelo menos uma vez na vida é necessário. Ah, e sentindo o cheiro dos peixes, porque faz parte da experiência. Mas sempre pare para perguntar o preço da tainha e, se puder, pare para ver a moça descascando camarões... Ela os descasca sem nem olhá-los, tão automaticamente que atende no balcão, passa preços, reclama da economia, tudo ao mesmo tempo... E faz tudo isso tão rapidamente que deve ter descascado um quilo de camarões enquanto você lia este texto.

Florianópolis é um caso de amor e ódio. Mas se o trânsito permitir, e fizer sol, mais amor do que ódio.

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Fotos de Meiry Peruchi







quarta-feira, 18 de março de 2015

O RITUAL DO GARÇOM FRANCÊS

Diferentemente de Londres, ou Amsterdam, ou Lisboa, ou da maioria das grandes cidades européias, os garçons franceses não são imigrantes. Passei 7 dias na França, não fui atendida por imigrantes em restaurantes nenhuma vez. Creio que daí já se tire uma boa conclusão sobre como os franceses levam sua comida a sério e como a tratam como algo único.

O garçom francês é francês mesmo, nasceu e cresceu no local. Ele come bem e conhece boa comida desde criança. Ele vai saber responder todas as suas perguntas sobre o prato, e vai sugerir bebidas para acompanhá-lo.

No entanto, o garçom francês tem um ritual muito peculiar, e desconhecido da maioria dos brasileiros. Você não deve, jamais, chamar o garçom: ele ou ela virá até você. Chamá-lo significa irritá-lo profundamente, significa apontar o trabalho que ele sabe que deve fazer. Mas ele o faz com arte, no seu tempo. Faz parte da experiência.

Uma outra coisa importante: o cardápio. O garçom entrega o cardápio ao cliente, mas não volta à mesa até que o cliente o feche. Cardápio aberto significa que você ainda não escolheu. Cardápio fechado significa que você já sabe o que quer. Mesmo assim, o garçom virá quando puder, e quiser. Não o apresse.

Finalmente, a lenda do garçom rude. Cheguei à França psicologicamente preparada para ser mal atendida pelos garçons, e para ter a tentativa de comunicação em inglês negada. Ledo engano. Para mim, em 2014, a lenda se quebrou. Fui bem atendida pela grande maioria dos garçons e garçonetes que conheci. Todos eles aceitaram falar inglês comigo de bom grado, mas depois de um “bon jour”, é claro! A maioria deles, inclusive, desenvolveu uma simpatia conosco a ponto de perguntar de onde éramos, dados nossos traços físicos tão distintos, meu esposo e eu. Pergunta esta que eu sempre devolvia, e sempre recebia a mesma resposta: - Daqui.

O garçom francês tem orgulho de ser garçom, de trabalhar diariamente com comida de tal qualidade e requinte, de fazer parte da experiência de viagem de milhares de pessoas. Ele tem orgulho de mostrar que é local e de transformar o serviço em arte. Mas, por favor, não o apresse...

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Foto No 1 de Meiry Peruchi





quinta-feira, 5 de março de 2015

RIO DE JANEIRO

Aterrissar no Aeroporto Santos Dumont é uma aventura, mas também é um encantamento. Seja pelo medo ou pela formosura, haverá frio na barriga. Ver, lá de cima, aquela geografia única prometida pela televisão é memorável.

É impressionante ver como tamanha beleza natural anda, lado a lado, com tamanha ocupação urbana. É mais impressionante ainda observar a banalidade com a qual os cariocas tratam tamanha beleza.

Nós, de fora, pensamos que não pode haver tristeza num lugar como este, que cara feia seria um pecado mortal quando se olha pela janela e se vê o Pão de Açúcar. Mas o carioca se permite cara feia e mau humor, principalmente quando precisa servir alguém. Cariocas não nasceram para servir, nem um pão, nem uma lagosta.

A natureza é, sem dúvida, a protagonista da cidade, mas o carioca também se acha digno de um Oscar. As montanhas são espantosas, e estão sempre lá, como uma moldura, sendo a praia o centro do quadro. E sempre haverá alguém se exercitando nessa espécie de arte performática que é o carioca e a sua paisagem.

As praias têm personalidade própria, e cada atitude da maré, da areia, da brisa, traz um frequentador diferente. Mas todos os frequentadores sabem onde seus amigos se encontram. E eles se encontram lá todo dia. “Dia de semana” é apenas uma terminologia, certo?

Um barzinho, uma cerveja gelada ou uma caipirinha deixam qualquer boêmio feliz. Adicione uma fritura qualquer e terá um turista que não quer que a madrugada acabe.

O sol se põe, na montanha desta vez, não no mar. A dança rotacional da terra faz com que cada pôr-do-sol seja inédito. As luzinhas das casas na favela se acendem e iluminam Ipanema. Ou Ipanema as ilumina?

O Rio é uma Bossa Nova: um gozo despreocupado, porque complicar a vida é mesmo desnecessário.