Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

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Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Depressão Pós-Viagem - DPV

É sempre assim, não tem jeito.

Desde 2007, na minha primeira grande viagem, é sempre assim.

Umas semanas após a volta (sim, eu demoro a digerir sentimentos), o mundo para de fazer sentido, os pequenos prazeres já não são mais tão indulgentes, e as burocracias vão de chatas a insuportáveis.

Mas eu demorei a entender esse sentimento. Devo só tê-lo identificado na segunda ou terceira vez que o senti. Então comecei a chamá-lo de Depressão Pós-Viagem, ou carinhosamente DPV.

Vou tentar explicar para quem nunca sentiu isso antes, ou para quem já sentiu, mas não sabia do que se tratava: durante a fase de Depressão Pós-Viagem, tudo fica mais difícil e menos interessante. Pequenas burocracias diárias como levantar cedo, lavar os cabelos, trabalhar, lavar a louça vêm envoltas em longos questionamentos de “Por quê?” ou “Pra quê?”...

Mas o que mais me deixa triste é perder o direito da auto-complacência. Num estado normal, de não-DPV, você trabalha a semana toda e, ao final dela, se permite tomar um vinho ou uma cerveja, comer algo mais elaborado, ou uma guloseima-porcaria, ou acordar mais tarde sem nenhum remorso. E essa auto-indulgência te faz bem, isso é a válvula de escape que você precisava para esquecer a semana anterior e suportar a próxima.

Porém, num estado de DPV, essas coisas não dão mais o mesmo prazer. O problema é que você se dá conta de que aquele vinho é pior e mais caro que o que você tomou em Portugal ou na França; Aquela cerveja é pior e mais cara que a que você tomou na Alemanha ou na Bélgica; Aquela comida elaborada é pior e mais cara do que a que você comeu na Itália ou na França; Aquela guloseima-porcaria não chega aos pés da que você comeu na Inglaterra, no Uruguai ou na Holanda...

Essas semanas são desesperadoras, porque a vida como você a está vivendo para de fazer sentido e isso te deixa sem chão. Os questionamentos de “Por quê?” ou “Pra quê?” acabam se aplicando a tudo na sua vida e não só à parte chata dela. E questionar a própria vida é muito doloroso.

Mas os dias passam e você aprende a aceitar que não pode viver de férias o tempo todo e que o mundo sempre estará lá para ser explorado. A depressão diminui no mesmo ritmo em que a digestão da viagem acontece. Você mastiga, engole e digere todo o aprendizado da viagem e isso te faz melhor, mais maduro(a), mais sereno(a).

A vida incomoda como um sapato novo. Depois acostuma.


...

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3 comentários:

  1. Maravilhoso texto.....me achei!
    Aproveitei para verter algumas lágrimas reprimidas, por conta desta DPV!
    Tão difícil aceitar que a vida não é um eterno estado de férias! Nunca tinha sentido isto de maneira tão dolorosa, como da minha última volta, há 4 semanas!
    Obrigada pelo texto! Vejo que não estou com nenhum problema insolúvel! Apenas o tempo necessário para "amaciar" o sapato novo, como dizes e sonhar com a próxima viagem!

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    Respostas
    1. Isso mesmo, Helga. Concordo com cada pelavra tua.
      Eu voltei há 1 mês e meio, e só agora a DPF está passando.
      Resta agora amaciar o sapato do novo aprendizado, que dói para internalizar, e maquiar um pouco os dias planejando a próxima viagem!
      Abraço e obrigada pelas belas palavras.

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    2. Aproveito para te convidar a curtir nossa página no FB: https://www.facebook.com/diarioliricodeviagem?ref=aymt_homepage_panel

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