Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

Minha foto
Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

A LICENÇA POÉTICA QUE O Airbnb PODE SER

A Serra Gaúcha foi minha primeira viagem nesse mundo. Em 2007 estive lá acompanhada do então namorado, hoje meu esposo. Com ele, uma mochila nas costas e umas poucas economias. Mas eram minhas, a mochila e as economias.

Desde então, já viajei para quase 10 países da minha lista de Top 20. Mas voltar à Serra Gaúcha é um ritual do qual não abrimos mão. Neste maio, ao completar 8 anos juntos, fomos lá novamente.

No entanto, com as economias ainda mais contidas, dada uma viagem internacional que se aproxima, decidimos usar o Airbnb, sistema online de aluguel de quartos em casas de moradia, pela segunda vez.

Para evitar os preços da famosa Gramado, pesquisei pela sua irmã menos famosa, mas não menos formosa, Nova Petrópolis. Na lista de acomodações, uma foto estonteante do vale do Caí me fisgou: era um ângulo de cima, com profundidade e amplitude, mas ainda sem interferir naquela natureza toda. O ponto de vista de quem admira tanto que nem quer tocar, para não estragar algo que já nasceu pronto, e perfeito.

Decidimos celebrar nosso pequeno ritual lá. Uma das melhores decisões que já tomamos.

A cidade é organizada, limpa, calma e decorada com flores. O bairro onde nos hospedamos também. Mas confesso que, ao chegar na casa, nunca imaginava conhecer tanta gente de coração bom, que sabe do privilégio que tem ao conviver com aquele lugar.

Fomos recebidos pela Juliana, seus pais Clara e João, e o irmão de Clara, Flávio, com um sorriso do tamanho do vale. Aos sorrisos, se seguiram abraços apertados, convites a um café e uma conversa longa e divertida. Todos eles têm o hábito de viajar, têm experiência em hospedagens pelo mundo, boas histórias para contar.

Logo, Flávio já estava tocando piano, enquanto compartilhávamos um pouco da nossa história juntos.

À noite, um chimarrão e, em volta dele, fico sabendo que aquela casa, aquele destino não eram por acaso, muito menos levianos: Clara e João sonharam por mais de 25 anos com aquela vista, com aquele projeto de vida. Vê-se um carinho imenso nos olhos deles ao falarem do lugar, sente-se a gratidão que eles têm pela honra que é cuidar daquele pedaço de terra, seu paraíso particular.

Privilégio e gratidão por tê-lo, são, de fato, o que se sente lá. Mas mais que isso, saber que alguém que goza dessa vantagem decidiu compartilhá-la com outros, é mesmo admirável. Permitir que outras pessoas façam parte do seu sonho e usufruam do seu projeto de vida é um desprendimento para poucos. E, para mim, poder fingir, mesmo que por dois dias, que aquele sonho também era meu foi memorável.

Sempre digo que é viajar o que me impede de perder totalmente a fé na raça humana. E é mesmo.












Nenhum comentário:

Postar um comentário