Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

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Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Cataratas do Iguaçu, ou melhor, Iguazú - Lado Argentino

As cataratas dividem o Brasil e a Argentina, e com frequência eu escuto as pessoas dizendo que as Cataratas ficam em Foz do Iguaçu. Não é bem assim.

O Brasil, e por sua vez a cidade de Foz do Iguaçu, tem cerca de 30% do volume total das águas que culminam nas grandes quedas que dividem os dois países. A Argentina, e a cidade de Puerto Iguazú, tem uma extensão muito maior, cerca de 70% do parque e do volume de água.

O que isso significa?

Significa que se você já foi a Foz do Iguaçu e visitou apenas o lado brasileiro das quedas, provavelmente perdeu a maior e mais impressionante parte delas. So sorry.

Mas isso também tem um lado negativo, já chego lá.

Mas vamos começar pelo princípio. Se você está hospedado em Foz, que foi o meu caso, saiba de duas coisas: 1. Ou você gastará muito dinheiro e MUITO tempo tentando chegar nas cataratas argentinas de ônibus, ou você gastará apenas muito dinheiro indo de taxi.

Questionamos vários motoristas de taxi em Foz e todos disseram a mesma coisa: para ser levado às cataratas argentinas pela manhã, buscado no final da tarde, levado para jantar uma parrillada argentina em Puerto Iguazú e depois levado de volta a Foz, o preço fica em salgados R$200. Estávamos em 4 pessoas, o que facilitou um pouco essa decisão. Mas gente, valeu cada centavo.

Ir de ônibus significa pegar um ônibus brasileiro (+/- 6 reais), ir até a fronteira, esperar pelo ônibus argentino, que cobrará absurdos R$20 reais por pessoa, e só então, horas depois, chegar nas cataratas. Como estávamos em 4 pessoas, achamos que economizar tempo e ainda ir jantar em Puerto Iguazu por R50 por pessoa era justo. E assim o fizemos.

Outra coisa importantíssima: 2. A entrada do Parque Nacional Iguazú só aceita pagamento em pesos argentinos e em espécie (200 pesos en efectivo para brasileiros). Não adianta ter reais ou dólares em mãos e nem adianta levar cartão. Por isso, troque seu dinheiro por pesos ainda em Foz. Nós usamos uma das muitas casas de câmbio que ficavam na rua do nosso hotel e os preços eram todos muito parecidos.

Pegamos o taxi de manhã bem cedo e seguimos para a Argentina. É necessário parar na aduana, esperar na fila, mostrar documentos, ganhar um carimbo e só então seguir viagem.

A chegada no parque argentino é meio cômica. A estrutura física é muito inferior à estrutura do lado brasileiro. Esperamos muito tempo por um trenzinho que queimava Diesel, andava a absurdos 5km por hora e levou MUITO tempo até chegar na estação que leva às trilhas.


No lado argentino, os perigosos quatis são ainda mais numerosos, chegando mesmo a investir contra as bolsas das pessoas e lanches sobre as mesas. Mas, mesmo assim, ainda acho esses bichinhos fofos...


- Eu não pareço muito fofinho?

Como eu havia falado neste post, o lado brasileiro tem apenas 2 trilhas, sendo a principal delas a famosa Garganta do Diabo.

Ocorre que no lado argentino, a trilha que leva à versão deles da Garganta do Diabo é a menos impressionante. O lado argentino tem um total de 5 trilhas, mas o parque é tão grande, mas TÃO grande que é praticamente impossível fazer todas em um mesmo dia.

Essa é a parte negativa que eu mencionei antes. Em um dia inteiro, praticamente sem parar, nós fizemos 3 trilhas: a Garganta do Diabo, o Circuito Superior e o Circuito Inferior.

A Garganta do Diabo é interessante porque leva você a olhar para dentro do "olho" da grande queda. A passarela permite que o turista veja a maior queda de todas, em formato circular, de cima, e isso é bem impressionante. O problema é que a trilha até lá é feia, são apenas passarelas de metal sobre o rio.

A trilha do Circuito Inferior é bacana, você desce centenas de degraus e consegue ver uma série de quedas pela parte baixa. Também é possível chegar bem próximo ao rio. Mas lembre-se: é preciso subir tudo de novo depois.

Mas a trilha do Circuito Superior é de longe a mais impressionante. E pensar que estávamos tão cansados que cogitamos não fazer essa trilha...

Nesta trilha você vê dezenas (talvez centenas?) de quedas imensas, algumas tão violentas que  é impossível voltar de lá sem se molhar! A cada curva existe um novo paredão com cachoeiras tão belas, com um volume de água tão impressionante que faz o queixo cair!





O ideal, ideal MESMO, seria ir ao Parque Nacional Iguazú 2 dias seguidos, por conta da extensão do lugar. O parque, inclusive, dá desconto no segundo dia.

Além das quedas, o parque tem uma diversidade incrível de animais e plantas. Eu nunca havia ficado tão próxima de um jacaré, por exemplo. Este bichano estava ao lado da estrada, sem qualquer tipo de proteção!






Deixamos de fazer duas trilhas, mas ficamos absolutamente boquiabertos mesmo assim.

O roteiro desse dia foi ver o lado argentino, o que leva um dia todo, das 8h às 18h, contando com o trajeto de Foz até lá, mais as 3 trilhas do parque. E depois das 18h, quando o parque fechou, pegamos nosso taxi, que estava nos esperando como combinado, e fomos jantar em Puerto Iguazú.

Jantar uma parrillada argentina tomando um Torrontés depois daquele dia longo, foi uma das melhores decisões.

Em Puerto Iguazú, recomendo o restaurante Tio Querido para um jantar informal e barato, e o restaurante La Rueda se você quer algo mais formal.

Leia também:
Foz do Iguaçu: Parque das Aves
Cataratas do Iguaçu: Lado Brasileiro

www.iguazuargentina.com

domingo, 27 de março de 2016

Cataratas do Iguaçu - Lado Brasileiro

Eu já havia falado aqui sobre o Parque das Aves, primeiro passeio que fizemos no nosso primeiro dia cheio em Foz. Como o parque é bem em frente à entrada para as cataratas, decidimos fazer os passeios no mesmo dia.

O lado brasileiro das Cataratas do Iguaçu é muito bem organizado, bem sinalizado e o turista é levado até as 4 paradas existentes num ônibus elétrico, onde uma gravação explica o itinerário do passeio tanto em Português quanto em Inglês. É clara a preocupação do Instituto Chico Mendes com a preservação do local.

Existem 4 paradas pelo caminho até o ponto final do passeio. Uma para a administração do parque, uma para a empresa Macuco Safari (veja mais abaixo) e duas paradas para trilhas: a do Poço Preto e a que todos os turistas fazem, a das Cataratas.

A trilha das cataratas é relativamente longa, mas o turista vai gradualmente se habituando à paisagem: a cada curva você vê quedas d'água que vão aumentando, até culminar na famosa queda Garganta do Diabo.



A Garganta do Diabo é o clímax do passeio. Existe uma passarela pela qual o turista passa para chegar bem próximo da queda. Pode-se, também, subir numa torre para ver a queda maior do alto.



Se você cruzar toda a passarela, ficará ensopado! Vá com roupas confortáveis, que não fiquem transparentes quando molhadas e leve calçado extra se não quiser ficar com os pés molhados no resto do passeio.

Por isso, também não recomendo visitar as cataratas no inverno.

Em todo o parque, tenha cuidado com os quatis. A população desses bichinhos é imensa e placas alertam o turistas para não alimentá-los, nem tocar neles, pois eles podem morder. Porém, os quatis parecem dar um jeito para conseguir comida!



Acabamos não fazendo a segunda trilha, pois já havíamos reservado o passeio de barco da Macuco Safari.

A Macuco Safari oferece um passeio pela selva, seguido de um passeio de barco inflável pelo rio, até as cataratas. O barco entra embaixo da queda um total de três vezes, encharcando o turista. Foi uma emoção difícil de explicar, um misto de medo e adrenalina. O passeio é caro, quase R$200, mas vale cada segundo para quem gosta de aventura. De novo, recomendo levar roupas extras. Nesse passeio você não fica apenas molhado, fica pingando de verdade!


Foto promocional Macuco Safari

Foto promocional Macuco Safari

Foto promocional Macuco Safari

Os funcionários filmam e fotografam tudo, para depois vender os CDs e DVDs na saída. Compramos apenas o CD de fotos, em conjunto com amigos porque achamos caro, mas as fotos são bem feitas.

Essa é a minha sugestão de roteiro para um dos dias da sua viagem. Leia também sobre a minha experiência no lado Argentino das Cataratas.

www.cataratasdoiguacu.com.br
www.macucosafari.com.br

quinta-feira, 24 de março de 2016

Foz do Iguaçu: Parque das Aves

Estive em Foz do Iguaçu em janeiro de 2016, e estava procrastinando falar sobre Foz porque não sabia por onde começar.

Decidi começar pelo começo. No nosso primeiro dia cheio na cidade, fizemos o seguinte roteiro:
Parque das Aves, lado brasileiro das Cataratas do Igraçu (cuja entrada fica em frente ao Parque das Aves) e o passeio de barco do Macuco Safari para fechar o dia. Foi cansativo, mas possível. O lado brasileiro das cataratas é pequeno e permite este roteiro.

Vou falar de cada coisa separadamente, e depois pretendo falar do lado argentino das cataratas, que foi, pra mim, o grande protagonista da viagem.

Parque das Aves

Estávamos com amigos estrangeiros e eles fizeram questão de visitar o parque. Pensei que um brasileiro não pudesse se impressionar lá, mas confesso que foi um passeio e tanto. O parque não se limita a araras e tucanos, e a preocupação com o "cenário" é impressionante.

Já na entrada, realizei o sonho de ver flamingos, apesar de eles não estarem tão cor-de-rosa como eu sonhava. Não sei dizer se é a época do ano ou a alimentação deles que os faz mais "brancos" aqui, mas o fato é que eles fedem! rsrs!


Um brasileiro já viu um sem-número de araras nessa vida, mas eu confesso que nunca tinha visto um tucano bem de perto. Essas aves mansas ficam soltas em grandes áreas pelo parque.

 

Mas tenho certeza que o que mais encanta as pessoas nesse parque é o reduto das araras. Um espaço imenso onde araras de todas as cores voam livres, se alimentam e até brigam!


Mas como eu disse antes, o parque não se resume a aves brasileiras. Foi muito impressionante ver uma Harpia, a maior ave de rapina do mundo. É um animal que, sentado, tem 1,50 de altura.

Igualmente inesquecível foi ver um Casuar, uma das 3 espécies de aves do mundo que não voam (juntamente com a Ema e o Avestruz). O Casuar, original da Austrália, tem dedos de dinossauro, altura de uma criança de 9 anos e produz um som assustador. Dizem que o Casuar é perigosíssimo, e é famoso por atacar pessoas na Austrália.


O parque também mantém uma coleção lindíssima de bromélias.


A entrada do Parque das Aves custa R$30 para brasileiros. É um passeio que leva entre 1 e 3hs. É "family friendly" e vale cada centavo.



Parque das Aves

Fone: +55 45 3529-8282

Site: http://www.parquedasaves.com.br/

sexta-feira, 11 de março de 2016

A felicidade contida num roteiro

Nossa vida emocional é como uma montanha russa. Um dia normal, seguido de um dia triste, seguido de um dia loucamente frenético, seguido de outro dia normal, seguido de um dia feliz...

Se todos os dias fossem normais, viver não teria graça. Se todos os dias fossem tristes, também não. Se todos os dias fossem felizes, morreríamos sem fôlego entre um suspiro e uma arfada.

Para o viajante, dias normais significam 'trabalhar para juntar dinheiro para a próxima viagem'. Dias tristes são aqueles em que perdemos uma super promoção aérea, ou pensamos demais e perdemos aquele pacote super em conta que sua amiga agente de turismo te enviou.

Mas os dias felizes... Ah, os dias felizes são aqueles em que você conseguiu comprar uma passagem aérea com um preço que cabe no seu bolso e sai loucamente pesquisando por hotéis/hostels. Abre dezenas de janelas no computador numa saga desvairada para comparar preços, localizações, avaliações do Tripadvisor...

Os dias que se seguem são geralmente felizes também. Para mim, a parte da pesquisa e da montagem do roteiro é a mais feliz.

Ler blogs, sites de viagens, memorizar o mapa da cidade, calcular tempo, distâncias, jogar nomes no Google para ver se algum lugar desconhecido vai arrebatar o seu coração. Se habituar aos nomes dos lugares, ao idioma, aos costumes locais.

A felicidade do viajante se resume a abrir um documento no computador com o nome do próximo destino.

Os dias ficam mais leves, mais fáceis de viver, os colegas de trabalho notam o nosso bom humor, um novo lote de alegria é depositado no nosso coração.

Essa renovação da alegria é o que nos mantém seguindo em frente.

Mas a alegria de montar um roteiro só não é maior que a alegria de chegar ao destino, de pôr os olhos pela primeira vez em algo completamente novo.

Mas obviamente, a viagem é seguida pela volta, pela depressão pós-viagem, pelo normal de novo. E essa montanha russa emocional seguirá até, um dia, parar. Não podemos saber se ela vai parar no ponto mais alto, no mais baixo ou no meio. O que podemos fazer é capturar cada oscilação da maneira mais intensa e genuína.

Boa viagem!



sexta-feira, 4 de março de 2016

Quando eu chorei numa viagem

A Ana Claudia Crispim, do blog Rivotrip, escreveu esse texto aqui falando das vezes que ela, e alguns amigos, choraram de emoção numa viagem. Então, eu fiquei pensando se eu também já havia chorado de emoção numa viagem...

Passei dias pensando no que senti ao ver o Coliseu, a Torre Eiffel, meu primeiro castelo... Mas me dei conta de que as vezes em que realmente me emocionei numa viagem não foram necessariamente ligadas a questões visuais.

Não sou uma pessoa muito 'visual', sou mais 'sinestésica', me marcam mais as coisas ligadas à sensação. Minhas lembranças mais vívidas são aquelas ligadas ao sabor, cheiro, som e toque das coisas.

E ao perguntar a amigos o que mais os emocionou em viagens, uma amiga que disse que "já pseudo chorou ao ver algumas obras de arte", também lembrou que as obras de arte que mais a amocionaram foram aquelas que ela nem sabia que veria.

Taí, o elemento surpresa é uma das características mais importantes da emoção arrebatadora que arranca lágrimas dos nossos olhos.

Foi então que lembrei... Lembrei da vez em que agradeci pela escuridão do lugar, onde as pessoas não viram que eu estava vermelha, de olhos marejados tentando disfarçar:

Queríamos ver Fado em Lisboa, mas não sabíamos em qual das casas de Fado profissional ir. Ao perguntar à recepcionista do Hostel que lugar ela recomendava, ela explicou que nessas casas de Fado o ambiente, as fantasias, os cantores, os musicos são quase um teatro, tudo perfeitinho para impressionar o turista, mas que lhes falta a raiz, o coração, justamente aquilo que faz do Fado esse retrato do povo português que ele é.

Ela mencionou a Tasca do Chico, e explicou como funciona o Fado Vadio: num bar despretencioso, lisboetas se reúnem para beber, conversar e, quando alguém se sente inspirado, levanta e canta. Sem roupas típicas, sem maquiagem, sem encenação, apenas canta o Fado que lhe vem ao coração. Dois violeiros acompanham, claro.

Chegando na Tasca do Chico, vimos o lugar com apenas sete mesas comunitárias encher logo, e ainda tinha gente em pé e outras do lado de fora. O tal Chico se faz mestre de cerimônias, e abre a noite, mencionando algum lisboeta célebre que esteja presente.

Quando a primeira pessoa cantou, aquele ritmo e aquele sotaque ainda me eram estranhos, mas achei lindo de qualquer forma. Mas foi quando a segunda pessoa cantou, uma senhora cuja história daria um Fado só para si, foi que tudo aconteceu.

Chico explicou que ela não cantava há mais de um ano, em luto pela morte da mãe. E a cantora soltou os pulmões numa canção chamada "Segredos", numa letra que entrou em mim e não saiu até hoje...

"Fui amada, fui negada, 
Fugi, fui encontrada, 
Sou um grito de revolta.

Mesmo assim, porque te prendes? 
Foge de mim, não entendes? 
Eu nasci para ser gaivota"

"Eu nasci pra ser gaivota"... Enchi os olhos d'água, tentei secar sem ninguém perceber, envermelhei... Aquilo foi das coisas mais profundas, mais genuínas que já vi e ouvi na vida. É preciso estar em Portugal para entender porque o português nasceu para ser gaivota...

Essas memórias afetivas de viagem são as mais preciosas, lembrar de como você se sentiu surpreso e feliz vale mais do que mil fotografias para mim.



Acredito, de verdade, que a beleza salvará o mundo. É a beleza que me salva a cada dia.

***

Um fado na Tasca do Chico:


A canção "Segredos":