Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

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Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

EGUISHEIM

Eguisheim foi parar no roteiro da maneira mais linda: uma matéria na Internet a classificava como a cidadezinha mais linda da França e escolhida como a preferida pelos franceses. E isso tudo semanas antes da viagem. Quanta coincidência feliz.

Porém, chegar em Eguisheim justo no dia do Festival Anual dos Viticultores de Eguisheim (Fête Des Vignerons d'Eguisheim), sem nenhum planejamento anterior: isso, sim, é uma coincidência feliz!

No caminho entre o estacionamento e o centro da cidadezinha, uma constatação que me fez sorrir por dentro: cada rua tinha o nome de uma uva.

Ao passar pelas casas, observamos que quase todas elas tinham um vinhedo no quintal. E eu imaginava como deveria ser viver ali. Você faz um bom vinho, o seu vizinho também. Os jantares com amigos devem ser memoráveis!

Chegando no centro da cidade, pudemos ver todo o desfile que inicia o festival. Bandas marciais tocavam, todos vestiam roupas de épocas passadas. Rolhas eram jogadas na multidão e vinho branco, a especialidade da região, era servido gratuitamente aos que tinham um copo na mão. Seria o paraíso? Sim, sem dúvida.

Bem no centro uma igrejinha, e, sobre ela, uma cegonha em seu ninho. Eu nunca tinha visto uma cegonha antes, e ela era enorme! Então, me dei conta de que a lenda de que cegonhas carregam bebês havia viajado centenas de anos, e milhares de quilômetros para alcançar aquela gauchinha que morava na Serra. Como uma cultura tão diferente da minha, fez, de certa forma, parte de mim?

Subindo a montanha, vimos vinhedos ainda maiores, e paramos parar degustar algumas uvas. A cada uva de cor diferente, um cheiro e um sabor únicos. No topo da montanha, as ruínas de três castelos. E lá de cima, uma vista surreal de fileiras de uvas que traçavam o solo em tons de verde.

Ainda hoje, meses depois, faço cálculos mentais do que é preciso para largar a vida aqui e ir morar em Eguisheim. Seguido de um suspiro.


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Fotos de Meiry Peruchi

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

COLMAR, França

Numa viagem que já havia contado com belas cidades, tais como Paris, Reims e Strasbourg, eu, certamente, não esperava ficar tão impressionada como fiquei em Colmar e Eguisheim. Mas vamos deixar Eguisheim para o próximo round.

Eu já me considerava uma conhecedora da Alemanha e da cultura alemã e, naquela viagem, eu havia recém me familiarizado com o estilo bon vivant de vida dos franceses. Os Parisienses, certamente, sabem como passear pelas ruas ou ler jornais nos parques como se fossem parte do cenário. Como se estivessem lá para serem fotografados... Ou invejados.

Os alemães, por outro lado, além de saberem fazer cerveja, têm orgulho da sua pontualidade, e por que não dizer que eles têm também muito orgulho da sua burocrática, porém eficiente, rotina.

Quando, na minha vida, eu havia descoberto as duas informações anteriores, e tinha tido tempo suficiente para certificar e digerir ambas, eu cheguei em Colmar. Como se sonhar morar em, no mínimo, três outros países que eu havia visitado antes não tivesse me arruinado o suficiente...

Colmar é tão bem mantida, tão bem decorada com flores, tem construções em enxaimel tão intactas e ruas tão limpas que parece fazer parte de um conto de fadas, como aqueles dos Irmãos Grimm. Mas, ao mesmo tempo, a sensação de que você ainda está na França é inegável: comida gourmet, vinhos brancos sensacionais, o "ritual do garçom"...

Era domingo, quando a maioria das lojas e restaurantes fecham, mas eu tive a alegria de testemunhar a preparação e experimentar o melhor Brezel que já comi na vida, mudando completamente minha opinião sobre esse pão seco e de formato estranho.

Os canais, as lanternas nas casas e nas ruas, trepadeiras dando às construções um ar ainda mais rústico, as janelas típicas, a competição de qual cidade tem mais flores... Tudo isso faz o lugar parecer irreal, como se o viajante estivesse imerso num sonho que parece real demais para se crer.

Aquele pedaço de terra onde a organização alemã encontra a auto-complacência francesa: a verdadeira perfeição! Certamente “o melhor dos mundos possíveis” (Voltaire).


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Fotos de Meiry Peruchi

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

SÃO JOSÉ DOS AUSENTES

O frio seco, concreto,
que molda os ossos
e arqueia a postura,
somente prepara a alma
para a cerração das 3 da tarde.
As pedras centenárias da avenida
colocadas à mão, uma a uma,
ilustram bem o silêncio, maciço,
e a solidão local.
O Minuano é quem impera.
Sim, “quem”. Ele é quase uma entidade.
O frio e o vento,
inquilinos perpétuos dos campos e capões.
Ouvirás uma milonga em dias tristes
e um chamamé em dias de festa.
Um mate sempre à mão
é o regalo mais desejado.
Ninguém tentou domar o tempo,
mas ele é mais bondoso em Ausentes.

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Fotos de Meiry Peruchi