Sair do país é sair-se de si
Olhar para dentro por outro ângulo
Como a alma observa o corpo a dormir
De acordo com aqueles que acreditam em almas.
O formato das tomadas, as portas e janelas
Novas regras sociais
O sabor da água, da sobremesa...
Sua consciência vira imigrante no seu corpo
Seu corpo é imigrante naquele clima
A mercê das doenças de pele
Que o frio marca como se fosse ferro em brasa.
A mercê dos pães e das carnes
E os dentes que se vão com eles.
Você substitui preocupações como roubo e estupro
Pela preocupação com a cal
Ou com os animais que roem os cabos do seu
carro
O que pode ser igualmente letal, dependendo
do cabo.
Sair do país é descobrir que a gestação de
uma amizade
É a mais longa do reino animal
É um curso intensivo nos defeitos dos outros,
Mais os seus, mais as dificuldades
circunstanciais.
Sair do país é dar um novo sentido à solidão
O sentido mais completo
Não reconhecer e nunca ser reconhecido
Tornar-se invisível na multidão, no trabalho,
no bairro
Passar dias sem proferir um som familiar,
Dias sem ouvir um som familiar.
Expandir-se a vários continentes traz o gozo,
a dor
E o discernimento de que não há volta para o
ninho.
Vilsalpsee, Austria |