Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

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Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Um novo país, um novo personagem

Uma amiga (oi, Veruska!) me marcou hoje nesse texto aqui, do Felipe Pacheco. Um texto um tanto dramático sobre como sair do país é, de certa dorma, morrer. No texto ele conta que está morando no Canadá há um mês, e eu rio da coincidência, pois estou na Alemanha há um mês também.

Não concordo com algumas coisas que ele diz, como a comparação do bota-fora a um velório, ou da despedida no aeroporto ser como um enterro. Minha partida não foi triste como um velório ou um enterro, meus familiares e amigos sabiam que eu estava indo realizar um sonho de longa data e estavam felizes por mim. Teve choro na despedida, claro! Mas teve sorriso, teve "até logo". Teve "boa sorte" e teve "nos vemos em setembro". Teve alguns "te amo" meio atrasados, mas isso é só um nó a menos pra carregar na garganta depois.

Sobre se redescobrir, se reiventar, eu já tentava fazer isso todo dia. Não sou escritora, uma vez que não recebo para tal, mas escrevo todos os dias da minha vida, e quem escreve olha muito pra dentro. Porque olhar pra dentro é se questionar, se negar e se aceitar. Refletir sobre si para poder escrever sobre o humano e sobre o mundo te obriga a te virar do avesso. Eu nunca acreditei que eu era o meu emprego, o meu carro ou o meu pequeno apartamento, como ele diz. É óbvio que eu não sou a minha rotina. Nem nunca permiti que minha rotina definisse quem eu sou.

Mas eu confesso que concordo plenamente quando ele fala em se reinventar. Num novo ambiente, você também adota o novo para si, e eu acho que essa parte do "novo papel" é a melhor. Sair do seu país e começar uma nova vida em outro é como ganhar uma tela em branco, de certa forma. A gente preenche ela como quer, dentro das oportunidades oferecidas, claro. Mas tanto a tela, quanto as oportunidades são diferentes, por isso, a imagem final, o papel a ser representado, será diferente.

A cada "morte" do papel antigo, a cada novo papel, existe a chance de fazer melhor que antes. Se preocupar menos, se permitir mais, ser mais (ou menos) saudável, confiante, espontâneo... A tela em branco é linda e assustadora ao mesmo tempo. Estou vivendo as delícias e medos da tela completamente em branco pela primeira vez, mas já acho que todo mundo devia passar por isso um dia, é libertador.

P.s.: Na foto abaixo, uma das muitas maneiras que eu me reinvento todo dia: Estamos morando num apartamento sem cozinha. Encomendamos uma, porém, o tempo de espera é de 2 meses. Mas como é inverno, os itens que iriam para a geladeira ficam assim, na sacada.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Um chaveiro e uma saudade

Há alguns anos - 5 ou 6, não sei precisar - meus pais me deram um chaveiro de presente. Eles haviam ido visitar Piratuba, em Santa Catarina, região famosa por suas águas termais e suas pedras. O chaveiro era de uma pedra amarronzada e tinha o formato do Brasil.

Na época, deixei o presente de lado, eu já tinha um chaveiro: um que uma amiga tinha trazido de Londres pra mim. Lá no Brasil, um chaveiro do Brasil não tinha serventia.

Agora, alguns anos mais tarde e 11 mil quilômetros distante do Brasil e dos meus pais, coloquei as chaves da minha nova casa européia naquele chaveiro de pedra. Agora ele tem um significado.

Acho que é isso que os pais fazem, nos fornecem coisas - seja um casaco, seja um conselho - que só farão sentido mais tarde.